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Crédito: GospelMais.com.br |
Por todo o Antigo
Testamento vemos Deus advertindo e punindo seu povo por causa da idolatria. A
última e mais severa disciplina foi o exílio babilônico por 70 anos! Segundo
alguns teólogos, com essa punição o judeu se corrigiu definitivamente da
idolatria. Pelo menos em termos nacionais, mas não individualmente.
E é por isso mesmo que o
Novo Testamento continua a linguagem veterotestamentária de ênfase contra a
idolatria. Assim, Jesus exigiu que o culto do cristão seja em espírito e em
verdade (Jo 4.24) e Paulo acrescentou que o culto a Deus é sem imagens de
qualquer natureza ou outro apetrecho para suposto “incentivo à fé” como fazem
as igrejas neopentecostais com seus inúmeros objetos ungidos vendidos nas
campanhas de “libertação” (2Co 5.7). Por isso João ordenou a fugirmos da
idolatria! (1Jo 5.21), pois ela é obra da carne (Gl 5.20), é praticada por
pessoas que não herdarão o reino de Deus (Gl 5.21), os quais serão lançados no
eterno lago de fogo (Ap 21.8).
A idolatria é o culto a
ídolo! Ocorre que o crente tende a apedrejar os católicos por achar que ídolo
se resume numa imagem dos seus “santos”. Porém, a idolatria é mais profunda,
mais sutil. Por isso o crente nega que não é idólatra. A título de exemplo,
veja os casos do jovem rico (Mt 19.16-30) e Cornélio (At 10.1-26). Ambos eram
idolatras, mas faziam boas obras, oravam, eram “tementes” e guardavam a lei (no
caso do jovem rico). Mas no fim de cada história fica nítido que ambos eram
idólatras. O primeiro cultuava seus bens, o segundo cultuava a personalidade.
É por essa razão que
Jesus alertou contra o amor (paixão) pelos parentes. Ele aproveitou para incluir
nessa exortação os parentes mais próximos de uma pessoa para deixar claro o
perigo da idolatria velada (Mt 10.37). Outro perigo de idolatria velada é o amor
a nós mesmos (Lc 9.23-26).
Penso que o Dia do Evangélico, principalmente pela
forma como é comemorado, é um exemplo de idolatria velada (ou desvelada) que os
cristãos reformados não deveriam aderir. Esse dia teve início a partir da ideia
do então deputado distrital Carlos Pereira Xavier, em 1995, por meio do PL nº
474/1995, que se tornou na Lei nº 893, de 27 de julho de 1995, a qual instituiu
o dia 30 de novembro como o Dia do
Evangélico. A moda pegou até chegar na esfera federal. Assim, o
ex-presidente e ex-presidiário Lula sancionou a Lei nº 12.328/2010 que
instituiu o dia 30 de novembro como o Dia
Nacional do Evangélico, embora não seja feriado. Esse ex-deputado é evangélico
da Assembleia de Deus no Distrito Federal.
Não custa lembrar que ele
foi condenado a 15 anos de prisão em 2016, por mantar matar um jovem da mesma
igreja, segundo o Ministério Público Federal. O crime ocorreu em 2004. Como diz
a Bíblia, a árvore é conhecida pelos seus frutos (Mt 7.16). Jesus termina esse
texto com uma indagação bem pertinente: “...
É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas?”
(KJA). Fica a reflexão!
Então, por que o Dia do
Evangélico seria considerado um ato idolátrico? Não seria idolatria comemorar o
dia do pastor, do diácono, do presbítero, o aniversário da igreja ou qualquer
outra data? Dependendo da intenção pode cair, sim, na mesma vala. Mas não é o
caso aqui em discussão. Não estou defendendo que seja idolatria comemorar uma
data em si, como parece sugerir Paulo em Rm 14. Minha discussão está no campo
da comparação ou do princípio da necessidade.
Na verdade, questiono o
fato de existir uma data que já é suficientemente necessária para representar
os evangélicos no Brasil, não sendo necessária outra data. É o dia da Bíblia
que já vem sendo comemorado desde o século XVI, tem história, tradição e é
comum a todas as igrejas. Isso encerra qualquer discussão. Aliás, esse dia no
Brasil também é oficial por força da Lei nº 10.335, de 19 de dezembro de 2001.
Então, quem é mais importante: o Evangelho ou o evangélico?
A prova de que o Dia do
Evangélico é apenas uma questão política, uma oportunidade para dar palanque a
políticos de toda espécie, como é o caso do criador dessa data, é o fato de que
as igrejas e seus líderes ou não sabem da existência do Dia da Bíblia ou não dão
a mesma importância. Em nossa cidade, por exemplo, não existe histórico de que
os vereadores “evangélicos”, o Conselho de Pastores e as igrejas se mobilizem
com tanta ênfase para comemorar o Dia da Bíblia como o fazem para comemorar o
Dia do Evangélico. É provável que grande parte nem saiba da existência desse dia!
É de bom alvitre
chamarmos o ilustre Charles M. Sheldon para o debate. No clássico da lavra
desse autor, que todo cristão genuinamente reformado deveria conhecer, somos
instigados a fazer uma introspecção sobre esse tema: Paulo, Pedro, Tiago, Timóteo,
João... comemorariam um dia que os homenageassem? Pergunto isso porque os católicos
já fazem esse tipo de homenagem. Eles comemoram o dia de são Pedro, de São
Paulo, de santa Maria... E esses mesmos evangélicos que têm um dia para si – e o
louvam com festa e verba pública – condenam os católicos por isso.
Portanto, insisto que pelo menos neste momento, a forma como a data é comemorada trata-se de idolatria, politicagem e disputas de poder. É tudo, menos uma data que seja para a glória de Deus (1Co 10.31), pois se fosse, o nome mais apropriado seria o Dia do Evangelho. E se assim o fosse, já temos o Dia da Bíblia, que é o Evangelho! O verdadeiro cristão filho da Reforma Protestante não dá ênfase em dia para sua glória pessoal! Ainda mais com dinheiro público em um Estado laico. Um genuíno filho da Reforma tem como condição sine qua non nesta terra, uma vida Coram Deo, sem arredar o pé dos princípios dos Cinco Solas, os quais terminam apoteoticamente afirmando Soli Deo Gloria!
Pr Francisco Pinto, V. D. M.